Com tecnologia e inclusão, ensino público quebra paradigmas para construir escola do futuro
Subir a rampa na entrada da Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado hoje é mais que chegar a um colégio tradicional da rede pública sul-mato-grossense. Se outrora o local fora lembrado apenas por sua arquitetura inspiradora, assinada por Niemeyer, agora o espaço vai além: referência em inovação, tem a digitalização como instrumento de aperfeiçoamento do ensino, que aliados a outros elementos, conta com a inclusão como seu principal mote.
O conceito de 'Escola do Futuro' que a Rede Estadual de Ensino vem ampliando dia a dia, mês a mês em todo Mato Grosso do Sul, passa pelo advento da tecnologia e todos os seus benefícios, mas vai mais adiante com um modelo onde direção e professores são mais acessíveis aos estudantes, que também possuem participação ativa e integral na rotina escolar. Para atender quase 190 mil estudantes, os investimentos em educação nas 348 unidades escolares chegam a R$ 2,733 bilhões.
Tudo começa na sala de aula com uma formatação diferente. No lugar do quadro preenchido com giz, frente a carteiras dispersas em frente, meio e fundo da sala, entram lousas digitais conectadas à internet. Ao lado, um quadro branco de preenchimento com canetão auxilia o professor, assim como outro quadro, de vidro, fica no fundo.
"A lousa digital auxilia muito. Os alunos podem participar mais, ir até a lousa e fazer junto ao professor experimentos e simulações nesse formato digital. Ajuda a entender o conhecimento, ver o que está acontecendo. Você pode colocar várias mídias, Power Point com animações. É bem útil e incentiva a interação do aluno com o conhecimento", comenta o professor de Física, Marco Aurélio Marques, que aprova o modelo e o vê como um diferencial.
"Na escola tradicional, o aluno fica da porta para o fundo e o quadro na frente. Agora não, tendo a frente e o fundo nesse formato, a sala fica maior, fica mais dinâmica. Você interage mais, o aluno procura, vai onde está o professor. Não tem mais grupos de fundão. A sala está espalhada, ficou bastante interessante", completa o Marques.
Se em uma ponta os professores se sentem agraciados com as novas tecnologias que chegam às escolas, na outra estão os estudantes, os principais beneficiados com as mudanças que a 'Escola do Futuro' trouxe para as escolas estaduais de Mato Grosso do Sul.
"São tecnologias que facilitam bastante. Você aprende mais na prática, não fica só na teoria. Em Matemática, que eu tenho mais dificuldade, isso ajuda bastante a fazer as contas sem tanta dificuldade. Na aula de Física a gente consegue contar quantidades com mais facilidade, algo que no quadro normal é mais difícil", comenta Vitor Alexander.
Aluno do 1°C do Maria Constança, Vitor tem 16 anos e chegou este ano a escola, oriundo da rede municipal. "Esse ensino diferente que peguei aqui certamente vai me ajudar bastante. Tenho dificuldade na área de exatas, então não posso reclamar. Essa tecnologia atrai mais os alunos", conclui o jovem, enquanto faz cálculos de densidade na lousa digital.
Fora da sala, a escola integral
Ser uma escola de ensino integral vai além de oferecer turno e contraturno dentro dos muros escolares. A metodologia aplicada, as atividades oferecidas, a infraestrutura para que tudo isso aconteça, os recursos humanos e até a alimentação fazem parte de uma gama de elementos capazes de ofertar um conhecimento e preparação integral para os estudantes.
"Quando a gente fala em escola do futuro, ela envolve tecnologia, mas não é tecnologia solta. Tem que ter um objetivo. É uma escola que atrai o estudante. Então, qual que é o nosso foco na escola do futuro? É ter um espaço de aprendizagem que o estudante explore a conectividade, é uma escola que trata o lixo, que faz conexão com gás natural. Estamos começando a instalar energia solar nas escolas", frisa o secretário de Estado de Educação, Hélio Daher.
O chefe da pasta ainda destaca que existem conceitos que aplicados nas escolas são vivenciados pelos alunos e, assim, carregados por eles durante toda a vida. Isso reflete posteriormente em várias situações, até nas práticas correntes do mercado de trabalho.
"Estamos modernizando os parques tecnológicos das escolas, modernizando o acesso dos nossos estudantes. Hoje o professor de Ensino Médio recebe um tablet da Secretaria de Educação para poder trabalhar com os estudantes, então há um investimento pesado. Temos também que ensinar o estudante a utilizar a tecnologia a favor de aprendizagem. Tem que mostrar como utilizar a internet para o lado bom da coisa. Isso é um desafio que a gente investe", comenta.
A formação de professores para lidar também com tais transformações é outro item citado por Hélio, explorando assim a tecnologia e o acesso à internet a favor dele. "Estamos montando uma escola sustentável, moderna e tecnológica", conta Daher, completando.
"É por isso que a gente está investindo tão pesado em reformas de escola. A escola, além de tudo, tem que ser nova, bem estruturada, segura. A escola do futuro também é uma escola segura, monitorada. As nossas escolas hoje são todas videomonitoradas. Temos hoje talvez o centro de monitoramento mais moderno do Brasil. Então, isso é uma escola de futuro, que entrega para a sociedade todo esse pacote, justamente para a sociedade confiar na nossa escola".
Uma escola de inclusão, para todos
"O Pedro tem sido muito bem cuidado, o que nos faz pensar em levar nosso outro filho, o Gabriel, para lá também, se conseguir vaga, pois é uma escola muito concorrida". A frase é de Elizangela Dias, mãe de um jovem autista com inúmeros elogios ao trabalho do Maria Constança e que pretende, em breve, levar o outro filho da rede privada para lá.
A situação não é incomum para Reinaldo Schmitd, diretor da escola e que conta já ter recebido vários alunos que estavam em colégios particulares. "Vieram, não querem mais sair. Conheceram a metodologia de ensino, viram nossa estrutura, e ficaram de vez", conta.
Já Elizangela vivencia diariamente a mudança de vida que a escola trouxe para sua família. "A experiência do Pedro serviu para a gente ver que é possível. Ele não tinha esse ânimo que hoje tem para ir à escola. Antes ele não gostava, ia na marra. Hoje o caminho é o inverso, se precisar faltar para alguma consulta, é uma verdadeira luta, pois ele não quer faltar".
"No início eu pensava: como uma criança que não gosta de ir para a escola vai ficar em período integral. A gente achou que não ia funcionar, mas deu tudo certo. No caso do Pedro já no início das aulas ele teve um professor para o acompanhar. Existe uma acessibilidade da família, simplificado a todo corpo técnico da escola. Facilita", conclui Elizangela.